sexta-feira, 4 de abril de 2008

Estudo desfaz mito de que jovem é folgado


A maioria dos jovens brasileiros (80%) estuda, trabalha ou se ocupa de ambas atividades. Esta é uma das principais surpresas do inédito Índice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ), que a Unesco divulga nesta segunda-feira. O estudo derruba o mito de que jovem não quer trabalhar e não gosta de estudar, informa o coordenador do novo relatório da Unesco, Julio Jacobo Waiselfisz.
O IDJ também contesta que violência é produto da pobreza. Ela é resultado da desigualdade. Estados onde acesso à escola é garantido e renda familiar é elevada registram altas taxas de mortalidade por acidente de carro, crime e suicídio.
São Paulo, por exemplo, tem a segunda menor taxa de analfabetismo e a renda familiar per capita dos jovens é a segunda maior do País. O Estado, porém, aparece em 23.º lugar em mortes violentas. O Distrito Federal, com o maior número de alunos cursando a série adequada à idade e melhor renda, está em 22.ª colocação em homicídio e mortes em acidentes.
O Rio é o campeão em mortes violentas. O narcotráfico, que domina o Estado, explica em parte o resultado de 128,5 mortes em cada grupo de 100 mil jovens. Mas São Paulo e Distrito Federal, que não têm problemas tão sérios com o tráfico de drogas, aparecem, respectivamente, com uma proporção de 111,6 e de 108,4 em cada grupo de 100 mil jovens. Na maioria, mortes por motivos banais que envolvem parentes, amigos ou conhecidos.
Desigualdades e educação
O pesquisador recomenda aos políticos que revisem discurso de que eliminar a pobreza automaticamente acabará com a violência. Se fosse pela pobreza em si, continua, os africanos seriam os mais violentos do planeta. Na opinião do pesquisador, a origem da violência está na concentração de renda. "O problema é a pobreza dentro da riqueza." As diferenças são visíveis e a falta de acesso aos mesmos recursos gera violência.
O Brasil é um dos cinco países com maior concentração de renda no mundo, conforme o último Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas. Para Waiselfisz, a educação é fundamental para melhorar a distribuição de renda. Em média, um jovem com 15 anos de estudo tem renda cinco vezes maior do que outro que só fez a 1.ª série.
A pesquisa da Unesco constatou também que enquanto 46% dos analfabetos estão empregados, o porcentual sobe para 81,3% entre aqueles com curso superior.
Fora da série adequada
O número de matrículas na escola é praticamente universal entre 7 e 14 anos. Porém, cai bastante entre a população de 15 a 24 anos. De cada 100 jovens nesta faixa etária, apenas 48,6 freqüentam salas de aula. O índice é considerado bom por Waiselfisz, mas quando se observa detidamente os números o resultado é preocupante. Existem 1,5 milhão de jovens analfabetos e são enormes os desequilíbrios educacionais entre os Estados. Entre os jovens matriculados, apenas 29,2% estão em série adequada à idade. Mas quanto mais pobre o Estado, maior é a defasagem escolar.
E a cor da pele também faz diferença: 36,6% dos brancos estão cursando a série compatível com a idade; entre negros e pardos, o porcentual cai para 21,3%. Em Alagoas, onde a qualidade de vida do jovem é a mais baixa de todo o Brasil, 15,4% dos jovens são analfabetos e apenas 16,2% , matriculados em série adequada à idade. Já Santa Catarina, que oferece a melhor qualidade de vida aos jovens, tem taxa de analfabetismo de 1% e escolarização adequada atinge 36 3% dos alunos.
Renda e violência
Para exemplificar a diferença da qualidade do ensino no Brasil, pesquisadores da Unesco consideraram resultados do Sistema Nacional de Educação Básica (Saeb) de 2001. Com base nesses dados, incluíram no relatório do IDJ a informação de que "jovens da 3.ª série do ensino médio do Tocantins, de Roraima e do Amazonas apresentam menor domínio do idioma do que os jovens do Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul ou Minas".
O atraso educacional compromete o acesso ao mercado de trabalho, a uma renda digna e à saúde. "São os jovens pobres, negros, que não têm acesso ao estudo e por isso não têm condição de trabalhar. Ao ser negado o acesso legítimo, é muito provável que descambem para o lado ilegítimo", alerta Waiselfisz.
Ele está convencido de que a educação é o melhor investimento para melhorar as condições sociais da população e eliminar as desigualdades. "É um dos poucos bens que não se destrói com o consumo e não é transmissível."

Números do IDJ

Dos jovens brasileiros de 15 a 24 anos,

48,6% freqüentam escola
30,3% só estudam
31,2% só trabalham
18,2% trabalham e estudam
20,3% não trabalham nem estudam (pertencem às famílias mais pobres)
29,2% cursam o ensino médio ou superior
5,3% são analfabetos

A posição dos Estados no IDJ

1.º Santa Catarina
2.º Distrito Federal
3.º Rio Grande do Sul
4.º São Paulo
5.º Paraná
6.º Minas Gerais
7.º Goiás
8.º Rio de Janeiro
9.º Mato Grosso do Sul
10.º Mato Grosso
11.º Espírito Santo
12.º Rio Grande do Norte
13.º Tocantins
14.º Amapá
15.º Rondônia
16.º Bahia
17.º Maranhão
18.º Ceará
19.º Pará
20.º Amazonas
21.º Sergipe
22.º Piauí
23.º Roraima
24.º Paraíba
25.º Acre
26.º Pernambuco
27.º Alagoas

(Fonte: Estadão)

Um comentário:

Anônimo disse...

Falar que o jovem eh folgado eh muito fácil, difícil eh dá o apoio necessário para que ele cresça profissionalmente e isto incluo o apoio-base, ou seja, o incentivo a educação. Eh bastante visível qndo um joven conclui o ensino médio e naum tem suporte para enfrentar o temido vestibular, acaba entrando na onda dos "cursos profissionalizantes", que diga-se de passagem s naum for técnico, naum serve p/ nada! Outros entram no cursinho pré-vetibular com o objetivo d entrar em uma universidade, faculdade. E todos estes por todo o momento que saem do colégio estão passando por considerável pressão. No entanto, a maior parcela dos jovens necessitam trabalhar e naum podem se dar o luxo de continuar estudando, e qnd continuam fazem o maior sacrifício, pois, a prioridade eh o emprego.
Uma experiência que passei e nunca esquecerei, eh o abismo que existe entre a escola particular e pública, estudei minha vida inteira em colégio particular apesar d viver na classe baixa, qnd terminei matriculei-me em um colégio público e cursei a primeira semana, professor por lah nem pensar. Eh certo q naum devo julgar só pelos primeiros dias, mas, qual o estímulo q eh dado para estes alunos? S professor falta "então eles tb podem faltar". Sem contar dos relatos de amigos dos velhos trabalhos. Mais um vez repito, naum quero generalizar, mas, eh a verdade da maioria das escolas públicas, principalmente dos bairros pobres.
Imaginando q naum tem futuro procura um caminho mais fácil de "crescer" na vida, o tráfico. Eh fácil observar desde cedo adolescente comercializando drogas para poderem gastar o qnt querem. Infelizmente, qnd a polícia vasculha as ruas atrás de drogas muitos acabam sendo revistados, outros saem correndo, outros são levados presos ou mortos. O que quero dizer que eh fácil criticar achando uma culpa para qual eh sua, a falta de compromisso com o outro.