“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo”. (Mt 6, 33)
Jacson M. Estrela[1]
A quem servir? Servir é realizar a vontade de. Vontade, palavra esta que deveríamos por em suspeita por um longo espaço de tempo. Vontade vem de uma persuasão íntima, potência interior da qual o homem se determina a fazer ou não fazer alguma coisa. Eis um aí o equivoco: confundem-se muito freqüentemente as palavras vontade e desejo, ou pelo menos nos enganamos com relação aos seus sentimentos. E é este deturpar pela qual nos afastamos da vontade de Deus: os desejos.
Desejos são déspotas impacientes. Exigem satisfação imediata. Os desejos nos ordenam que nos apressemos em obter o que queremos; e todas as vezes que não conseguimos, ficamos desapontados. O mesmo ocorre quando obtemos aquilo que não desejamos, ficamos angustiados. (Epicteto, 55 d.C)
“Não vos preocupeis com a vossa vida, com que havereis de comer e beber; nem com o vosso corpo, com que haveis de vestir. Afinal, a vida não vale mais do que o alimento, e o corpo, mais do que a roupa?” (Mt 6, 25)
Vontade. Quantas vezes e quantas são as coisas que deixamos de fazer por falta dela? Quantas coisas extraordinárias deixamos de fazer porque são arriscadas? Seja até mesmo falar com desconhecidos; deixamos de ajudar e de ser ajudados. E sempre julgamos que foi melhor assim. É esta a vontade de Deus?
A vontade de Deus reside justamente aí: em arriscarmos mais em seu projeto, nos comprometendo fielmente com o que somos e com o que temos, confiando nas pessoas e em sua providência, pois, como num banquete, tudo chega a seu momento, sem que para isso precisemos ficar ansiosos.
Com relação às questões materiais, simplesmente não nos contentamos com o que temos, não saboreamos aquilo que está em nosso prato. Não cansamos de ansiar, invejar e apoderar-se de cargos, bens e até pessoas. Eis a principal função do cobiçoso: não possuir, mas ser possuído por seus bens e ânsias. Esquecemos em ser, e só pesamos em fazer e ter.
Jesus deixa muito claro, onde podemos encontrar o verdadeiro sentido de nossa vida: buscando o seu Reino e a sua justiça. Ora a própria origem da palavra justiça nos dá uma pista. Justiça vem de justo. Justa é toda roupa que nos cai bem, sem estar apertado ou folgado demais, mas simplesmente justo, ou seja, na medida certa (do grego metron).
“Para cada dia bastam seus próprios problemas”. (6,34c) Sejamos, então, pois, justos a cada atitude, as de contenção, gratidão e trato, com as coisas e pessoas. Sem deixar-nos de nos preocupar, mas sim em mudar o objeto de nossa preocupação. Procurando assim, o que é essencial, e este, “é invisível aos olhos” (Exupéry)
[1] Jacson M. Estrela é seminarista e estudante do 3º semestre de Teologia da Ucsal, oriundo da Paróquia e bairro de mesmo nome: Santa Terezinha, Doutora da Igreja.